quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Resenha "A Bolsa Amarela"

É mês das crianças! E nossas programações estão recheadas da doçura e das lembranças de infância. Agora, te pergunto: Como falar desse livro que simplesmente mudou a minha vida? Dê a uma criança de 11 anos um bom livro e um pouco de esperança e verá o nascimento de um escritor. Além de uma grande inspiração para minha vida pessoal, "A Bolsa Amarela” foi o ponta pé inicial para minha trajetória literária. Então vamos falar um pouco dessa belezura.


Editora: Casa Lygia Bojunga
Ano: 2008
Páginas: 140
Sinopse: A BOLSA AMARELA é a história de uma menina que entra em conflito consigo mesma e com a família ao reprimir três grandes vontades (que ela esconde numa bolsa amarela ) - a vontade de ser gente grande, a de ter nascido menino e a de se tornar escritora. A partir dessa revelação - por si mesma uma contestação à estrutura familiar tradicional em cujo meio "criança não tem vontade" - essa menina sensível e imaginativa nos conta o seu dia-a-dia, juntando o mundo real da família ao mundo criado por sua imaginação fértil e povoado de amigos secretos e fantasias. Ao mesmo tempo que se sucedem episódios reais e fantásticos, uma aventura espiritual se processa, e a menina segue rumo à sua afirmação como pessoa.

A BOLSA AMARELA foi traduzido em vários idiomas e encenado em teatros do Brasil, da Bélgica e da Suécia; recebeu o prêmio "O MELHOR PARA A CRIANÇA", da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; foi incluído na LISTA DE HONRA do IBBY (International Board on Books for Young People) e fez parte integrante da obra de Lygia que recebeu o prêmio HANS CHRISTIAN ANDERSEN e o prêmio ALMA (ASTRID LINDGREN MEMORIAL AWARD).

Sobre o livro: A imaginação da criança é a peça central da obra. Tendo ganhado de "presente"- o que na verdade era as sobras das coisas usadas da sua tia- uma grande bolsa amarela, a sonhadora Raquel guarda seus bens mais preciosos: suas vontades e um alfinete que achou na rua. Com o tempo, a turma da bolsa amarela vai crescendo e recebe um galo que não queria ser rei, outro galo muito briguento e uma guarda-chuva ( é isso mesmo, ela era menina)  que não abria nem lembrava sua história. 
Com a sutileza do olhar de uma criança, Lygia Bojunga problematiza a igualdade de genero, os direitos da criança e os sonhos, no caso, o da escrita. Primeiro, abordarei sobre o desejo de Raquel de crescer. A pequena é filha temporona, possuindo três irmãos, duas mulheres e um homem. A diferença de idade entre os irmãos é outro fator que não ajuda, enquanto Raquel está por entrar na adolescência, todos os outros já são adultos. Oras, é compreensível a pequena se sentir tão excluída de tudo, afinal, ela sempre era a criança na história. 
Depois, o segundo desejo de Raquel era de ser menino. Até ler esse livro acho que realmente nunca tinha conseguido expressar minha revolta quando ouvia coisas do tipo: Isso é coisa pra menino, rosa é cor de menina ou qualquer atitude que a nossa sociedade tenha estigmatizado referente às distinções entre gênero. Mas veja bem, Raquel não era feminista nem nada. Era só uma menina indignada com as ironias da sociedade, dentro de sua própria casa, em que seu irmão sempre podia mais. Alto lá, está dizendo que isso é regra geral? Não me interpretem mal, não foi isso que quis dizer. Até porque, anos atrás quando a obra foi escrita, o movimento feminista nem estava tão em voga assim (corrijam-me se eu estiver errada), além disso, é um livro infantil. Ou seja, são apenas as constatações de uma menina sobre a realidade.
'- Tá vendo? Falaram que tanta coisa era coisa só pra garoto, que eu acabei até pensando que o jeito era nascer garoto." BOJUNGA, Lygia.
E por último, o encantador desejo de ser escritora. Ah, esse foi o que mexeu mais comigo. Desde minha mais tenra idade gostei de inventar histórias, passei a escrever poesias aos meus 8 anos, mas admito: era um desastre. Não que hoje eu seja grande coisa. Mas voltando ao livro, Raquel queria e gostava de escrever, apenas era mal compreendida. Não tinha amigos, ninguém para ler o que escrevia e sua família só sabia tirar sarro de suas histórias. Porém, ela foi forte, não se deixou abater, o desejo de escrever falou mais alto e sua bolsa amarela seria o gancho para seus primeiros contos. Advinha só quem se animou e sentou para escrever as várias histórias que tinha na cabeça? Depois de 7 anos ainda acho que sou bem mais ou menos, mas como já dizia minha querida Raquel: "Paciência".
Com essa doçura no olhar de uma criança, repleto de fantasias e sonhos, Raquel nos traz a magia da infância e uma lição para a vida adulta. Não importa quantos anos temos, o que querem que sejamos ou o que nos impõe, é preciso ser o que somos. É isso ou carregar uma bolsa repleta de histórias e pesando como chumbo. É, eu prefiro viver cada dia de uma vez como sou do que fingir ser o que não sou. É por isso que recomendo aos altos e baixos, novos e velhos, homens e mulheres, que leiam "A Bolsa Amarela".
" Acabei até mudando de idéia: resolvi que se eu queria escrever qualquer coisa eu devia escrever e pronto. Carta, romancinho, telegrama, o que me dava na cabeça. Queriam rir de mim? Paciência. Melhor rirem de mim do que carregar aquele peso dentro da bolsa amarela." BOJUNGA, Lygia. 

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