sábado, 14 de janeiro de 2017

A Eterna Incompreensão de Viver

Uma das analogias contidas no livro "O Mundo de Sofia" é sobre o Coelho da Cartola. Esse é o universo que vivemos. Como explicar o aparecimento e saída do Coelho da Cartola? É uma das indagações que temos na vida.  Nascemos na pontinha dos pelos com a capacidade de nos maravilhar e refletir sobre o mundo, mas com o tempo vamos escorregando para a base da pelagem aonde mal podemos ver o que há além. Confortáveis demais para ousar subir de novo. Mas pensando, refletindo, filosofando podemos escalar lentamente até  a pontinha dos pelos, para enfim poder ver um pouco do mundo. Pois é, assim como somos incapazes de ver o mundo em sua completude e tudo que podemos ver é com muito esforço, também somos incapazes de ver outras pessoas em tudo que são.
Alguma vez alguém me disse que você poderia viver com uma pessoa a sua vida toda e nunca conhecê-la realmente. Pois bem, a meu ver, somos seres eternamente incompreendidos. E não, isso não é papo de adolescente, apenas é a mais fatídica realidade. do existir. Apesar desse discurso parecer meio niilista ou deprimente, quero informar que entender isso foi o grande triunfo na minha vida pessoal, e já lhe explicarei o porquê.
Quando somos crianças sentimos constantemente a necessidade de nos fazer compreendidos, tal questão leva a sérias crises na adolescência. Digo isso por uma perspectiva particular de observação do mundo que me cerca. Aliás, quem é que no fundo não quer se sentir compreendido pelo mundo? Ninguém gosta de se sentir rejeitado, renegado, ser debochado ou ignorado. "All You Need Is Love" - Já diziam os Beatles.
Mas a questão é bem mais profunda do que aparenta. Não é como se o problema fosse seu pai, sua mãe, seus amigos, seu cachorro, periquito ou papagaio. O xis da questão está no fato de que mesmo com os vários tipos de linguagens, somos incapazes de expressar tudo o que sentimos. É por isso que tentamos nos fazer entendidos de todas as maneiras possíveis, através da dança, música, artes plásticas, escrita, gestos e atitudes. Parece-me que algo no nosso âmago nos impele a nos relacionarmos com o mundo. Porém, muitas das vezes sequer somos capazes de nos comunicarmos conosco mesmo. 
Não parece curioso a preocupação tão incidente sobre a inteligência intrapessoal abordada pelos materiais de autoajuda? Reflita comigo um pouco: sequer somos capazes de nos enxergar por fora como somos, o que vemos sempre são reflexos e rascunhos de nós mesmos, quiça conheceríamos todo nosso interior. Menos provável ainda é que entendamos tudo que passa pela cabeça dos outros!
Estamos fadados a essa eterna incompreensão de viver. Nunca sabemos tudo sobre nós mesmos, nenhuma pessoa saberá sobre nós e no final das contas não somos tão previsíveis assim. 
Saber disso nos ajuda a ser mais empáticos com os outros, porque eles tem dificuldades e são gente como a gente. Também nos faz cobrar menos de nós mesmos, para nos aceitarmos como somos, sabe, como diz o ditado "A beleza está nos olhos de quem vê." Aquele aparente defeitinho seu pode ser o que mais agrada a outra pessoa. No fim das contas, sermos eternamente incompreendidos pode ser bastante fascinante, mais do que aterrorizador. Porém, assumo, ainda estou aprendendo a me maravilhar mais do que me assustar.

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