sábado, 18 de novembro de 2017

Carta aberta sobre : Artes, censura e objetificação do ser humano

Depois de vários dias procrastinando e pensando em como falar sobre esse assunto, decidi me manifestar. Nos últimos meses vimos várias causas de repercussão geral que abordam direitos e aspectos sobre a sexualidade humana. Desde já, é importante frisar que não sou especialista na área, quiça venho para condenar ou julgar quem apoiou ou deixou de apoiar o movimento das massas. Mas venho apresentar três situações das quais precisamos falar: A censura à exposição Queer em um museu do RS, a polêmica acerca da apresentação "La bête" no MASP, e a proposta de PEC vedando o aborto de forma absoluta.
Primeiro, ao falar sobre a exposição Queer é preciso deixar de lado qualquer ideologia ou posicionamento político que nos limite a análise. Aqui se trata de simples liberdade de expressão, arte como crítica social e falta de classificação indicativa de exposições. A princípio, alegou-se que o cancelamento da exposição seria para defender os pequenos e contra pedofilia e zoofilia. O mais curioso é que em uma análise rápida as imagens já ficamos reflexivos com de que forma aquela arte instigaria a prática desses atos, quando na verdade pareciam mais críticas do que incitações, digo do ponto de vista artístico. Assim, parece precário dizer que qualquer arte mal interpretada deva ser censurada.
Proteger as crianças é essencial, inclusive dos programas televisivos que passam cada vez mais cedo e com classificação indicativa questionável. Seria interessante sim visar uma classificação dessas exposições, porém, os pais devem se lembrar de que essa instrução parte principalmente da família. Logo, quem deve peneirar e instruir é esta, de modo a não jogar tudo nas costas do estado. 
Outra apresentação artística criticada por sua vez foi a do artista nu representado uma releitura como obra viva de "Bicho" da artista Lygia Clark, com uma reflexão interessantíssima. Porém, como sempre, mal interpretada. Alguém, filmou uma criança, acompanhada da mãe, participando da interação e jogou na internet. Será tão perturbador mostrar as nossos crianças a naturalidade do corpo humano e o respeito ao mesmo? Não é mais pertubador o endeusamento e objetificação de nossos corpos perpetuado nas mídias em vários sentidos, que abrem brecha para estupros, problemas na área afetiva e sexual ou ainda a hiperssexualzação infantil que ainda existe na nossa sociedade? Talvez por desde cedo ter aprendido na aula de artes que "a maldade está nos olhos de quem vê" quando abordado a questão do nu, a visão de quem escreve seja tão naturalista. Ou talvez apenas por receio e incomodo de que certas situações do período de ditadura de censura as artes estejam voltando sem razão de ser. 
Nosso século XXI, parece demonstrar tanto retrocesso que não satisfeitos com a objetificação dos corpos, censura da arte e da crítica, desejam mandar neles. Pior ainda, solapar direitos já consolidados como o do aborto em risco de vida e estupro. Se em 1940 o legislador já entendia essas situações como claramente pessoais a mulher, quem são um punhado de homens para 80 anos depois afrontarem tudo? A meu ver, esta PEC por sua vez não há de passar, o que claro, seria como rasgar a própria constituição.
Parece-me que não é a sociedade que tem estado tão mais libertária, feminista, excêntrica ou semelhantes, mas que nossas dicotomia política está arrasadora. Briguinhas estupidas e posicionamento ignorantes de uma sociedade que não aprendeu a pensar. Países como a França aprenderam a lidar com essas questões há anos, e sabemos que ao menos esses direitos se consolidaram. Enquanto isso, o Brasil aterra e ri das artes, a pornografia (porque em grande parte das situações nem erotismo é) das artes do Brasil é escancarada e ninguém a questiona. Mas quando a transformamos em crítica social parece o que a situação muda de figura.  Estamos com medo ou apenas assustados pelo que não conhecemos, pelo receio de acabar com a pornografia explícita, objetificação dos corpos, sexualização da mulher e toda a construção do patriarcado remanescente?


Links interessantes:
http://veja.abril.com.br/blog/rio-grande-do-sul/veja-imagens-da-exposicao-cancelada-pelo-santander-no-rs/#
https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/apos-polemica-ministerio-publico-investiga-mostra-no-museu-de-arte-moderna-de-sao-paulo-21892435
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/11/10/pec-que-proibe-aborto-pode-ser-pautada-para-votacao-em-comissao-do-senado

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